domingo, 16 de agosto de 2009

Anti-parlamentarismo. 060516

(Publicada no Diabo em 16 de Maio de 2006, pág.17)

Um conhecido deputado declarou, segundo o título de primeira página de um semanário de 9 de Maio, que há anti-parlamentarismo na sociedade portuguesa. Achei graça que um deputado se queixe disso, tal como achei picos de piada quando o ex-PR disse à população do Sátão que temos de lutar contra a campanha anti-política. Ambas as afirmações vêm confirmar que os políticos, parlamentares incluídos, não vivem no país real, mas sim no éter a milhares de quilómetros de altitude em relação ao solo do planeta. Tranquilizem-se que não existe qualquer campanha que vos seja hostil. Há, isso sim, um espírito crítico de pessoas que estão a ficar cada vez mais observadoras e esclarecidas das realidades nacionais e dos políticos que temos. Os cidadãos, a pouco e pouco, vão-se habituando a pensar por si, indiferentes a propaganda de vendedores de banha de cobra, sabendo discernir o essencial do acessório.

Se os políticos tiverem o cuidado de estudar as linhas gerais do ‘marketing’ concluirão que não é fácil, nem talvez possível, vender um produto de má qualidade a uma clientela esclarecida. Nessas condições, só um vendedor milagroso conseguiria convencer o comprador distraído a adquirir tal mercadoria. Portanto, senhores políticos, não se lamentem, perante os cidadãos e comecem a olhar para dentro do sistema, procurando os pontos mais fracos geradores da aversão dos cidadãos quer aos parlamentares quer aos políticos em geral e, depois, procedam à reparação dessas mazelas, ao saneamento da máquina. Os cidadãos, que não são tão estúpidos como os políticos pensam, passarão a ver os resultados desse esforço no sentido da cultura da excelência na política e passarão a acreditar e a respeitar.

Mas convém que os eleitos façam um sério esforço mental para acreditarem que a cultura da excelência não se traduz em discursos herméticos, vazios de conteúdo, nem em promessas falaciosas, mas sim na defesa concreta dos interesses nacionais, colectivos, reais, actuais, de que resulte bem-estar, segurança e qualidade de vida do todo nacional, através de obras reais úteis. Os políticos têm abusado da convicção contrária, parecendo que se consideram os únicos inteligentes num país de ignorantes e apáticos, no que estão muito enganados.

Conclui-se que não há da parte da população qualquer campanha anti-política ou anti-parlamentar, mas apenas uma clara visão da qualidade dos políticos que lhe impõem grandes sacrifícios de que os próprios não partilham.

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