domingo, 16 de agosto de 2009

As Multinacionais e os Consumidores

(Enviada aos jornais em 17 de Agosto de 2006)

Há movimentos a aliciarem os consumidores a rejeitar os produto das multinacionais que saíram do País. Não me parece lógico, porque um comportamento motivado por desejos de vingança ou maldade não está fadado para ter êxito, sendo preferível agir com objectivos positivos, de bondade, de que resulte benefício para o próprio e para outros. Este movimento acusa as multinacionais de pretenderem obter grandes lucros à custa de mão-de-obra barata. Ora, essa intenção já existia quando elas estavam em Portugal e, então, se elas são más, porque se lamenta a sua saída? Há qualquer coisa errada na argumentação.

O consumidor, para agir racionalmente, pela positiva, deve procurar defender os seus interesses comprando apenas os produtos de que necessita, sem ir atrás de publicidade duvidosa e procurar as melhores condições de preço e qualidade. Qualquer grande empresa procura lucros, sendo essa a sua finalidade essencial, e, para isso, deseja ter custos mais baixos nos factores de produção, produzir com a melhor qualidade, vender muito e ao mais alto preço que o mercado permita. Contra isto nada se pode fazer.

Outro aspecto a considerar, e esse é grave, é o dos postos de trabalho que desaparecem com a deslocalização. Mas só é de lamentar que o trabalhador não possua saber geral e capacidade técnica que lhe permita trabalhar com grande eficiência, adaptar-se sem dificuldade à modernização e à inovação, por forma a poder mudar de ramo de actividade em caso de necessidade ou de conveniência, à procura de melhores condições. Quanto a isto, há que apontar o dedo ao Estado que encerrou as antigas «Escolas Comerciais e Industriais» e aos sindicatos que não estimulam os seus associados a aumentarem os seus conhecimentos técnicos para darem à empresa melhor colaboração e merecerem melhores salários e para poderem mudar de emprego sem dificuldade. Conheço exemplos muito positivos das vantagens da preparação profissional e das consequentes melhorias através de mudanças de emprego. A propósito, há cerca de dois anos, um empresário espanhol instalou em Trás-os-Montes uma empresa de exploração e industrialização de granito. Quando o jornalista lhe perguntou quantos postos de trabalho ia criar para os transmontanos, respondeu que a mão-de-obra seria toda espanhola, o que aparentemente lhe traria custos mais elevados mas mais vantagens reais por assim obter maior produtividade. Isto merece reflexão, mostrando que a vantagem das empresas não está nos salários baixos, mas na melhor produtividade, na qualidade do trabalho.

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