domingo, 16 de agosto de 2009

Colaboração ou inveja. 060711

(Publicada no Destak em 11 de Julho de 2006, p. 15)

Quem estiver atento às notícias sabe que Bill Gates, o fundador da Microsoft e homem mais rico do Mundo, vai abandonar a sua empresa para se dedicar exclusivamente à gestão da fundação que tem o seu nome e de sua mulher Melinda, com fins de combate à doença e de apoio à educação, sendo a mais importante do Mundo, com um orçamento superior ao da Organização Mundial da Saúde. Numa sociedade em que a riqueza se deve mais ao mérito do que à herança, o segundo homem mais rico do mundo, Warren Buffet, em vez de deixar toda a fortuna aos filhos, doou a maior parte da sua fortuna a esta fundação, a qual, desta forma, passa a dispor de fundos que são superiores ao triplo do orçamento anual da ONU.

Para um português, este acto de Warren parece irreal. Em Portugal não seria possível existir um milionário que, em vez de criar uma fundação que perpetuasse o seu nome, doasse a outra já existente, sem disso se vangloriar, uma verba astronómica com o fim generoso de ajudar os pobres, tendo apenas como satisfação saber que a verba será bem administrada por pessoa honesta e competente. Em Portugal, o grande Luís de Camões, um sábio que provou conhecer profundamente a índole dos seus compatriotas, decidiu, conscientemente, terminar os Lusíadas, tratado sobre a raça lusitana, colocando como última palavra no último verso da estrofe 156 do canto décimo «enveja». Cá nos nossos sítios, em vez da colaboração, da entreajuda para grandes causas, há ambição, desejo de protagonismo, vaidade, competição, e outros factores que enformam o conceito de inveja. Estas palavras não são maledicência, bastando olhar para as centenas de minúsculas (comparadas com a de Bill Gates) fundações existentes no País para ver que as pessoas pretenderam mais a sua visibilidade e a obtenção de benefícios fiscais do que uma finalidade de benemerência eficaz, a qual só seria obtida pela dimensão, como reconheceu Warren.

O grande Camões, como era de esperar, tinha razão, o que recentemente se viu com as críticas a Scolari, o Filipão, porque não levou a selecção a campeã e ficar «apenas» em 4º lugar, como se nos últimos 40 anos tivéssemos ficado melhor classificados! Lá diz o ditado: «Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou».

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