sábado, 15 de agosto de 2009

Cultura antipolítica

(Publicada no Destak em 20 de Fevereiro de 2006, p. 19)

O ainda Presidente Jorge Sampaio disse na visita ao Sátão (não omitir o acento agudo!) que «temos de destruir a cultura antipolítica que existe em Portugal». Parece que ninguém discordará deste apelo. Mas ele deve ser feito perante os agentes da política e não perante a população. Esta que, em democracia, é depositária e fonte da soberania, está a ser aldrabada pelos políticos que, em campanhas eleitorais, tudo prometem e depois pouco ou nada realizam. O povo não é contra a Política com P maiúsculo, mas contra os políticos que se aproveitam da política com p minúsculo para se governarem à custa do povo que tem de pagar sem refilar. Os cidadãos nada devem aos políticos, devendo estes desempenhar as suas funções com o espírito de servir os interesses nacionais com honestidade, competência e sentido de Estado. O respeito e a deferência dos cidadãos em relação aos políticos depende da forma como estes se comportam. Há poucos anos, quando Almeida Santos foi substituído na presidência da AR por Mota Amaral ambos foram unânimes quanto à necessidade de prestigiar os deputados, com a diferença de que o primeiro achava que isso se conseguiria com maiores regalias financeiras, enquanto o segundo se inclinava para uma maior eficiência e seriedade no seu trabalho quer de legislação quer de controlo das funções executivas.

É agora de salientar que o PR, com este apelo, demonstra que, durante 10 anos em funções, não conseguiu evitar que os diversos governantes acumulassem erros que resultaram num défice exagerado, conduzindo a que os inocentes contribuintes mais desprotegidos tivessem de apertar o cinto e arcar com agravamento dos impostos para salvar a crise financeira, o que, no entanto, não impediu os políticos de continuarem com bons vencimentos, luxuosos gabinetes, profusão de assessores, acumulação de avultadas reformas ganhas em poucos anos, subsídios de reintegração, etc.

É certo que os políticos foram votados pelos eleitores, mas estes apenas podiam optar pelas listas que lhes foram apresentadas (para cuja composição não foram ouvidos), ou absterem-se (o que grande número fez conscientemente). Espera-se, que Sampaio continue a lutar para convencer os políticos a terem um comportamento que destrua a cultura antipolítica justificadamente existente no espírito da generalidade dos cidadãos.

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