sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Fogos florestais e incapacidade dos políticos. 050730

(Enviada aos jornais em 30 de Julho de 2005)

O Presidente da República, com as louváveis intenções a que nos tem habituado, apelou ao apoio das populações na prevenção e no combate aos fogos florestais. Na realidade, esse apoio é fundamental e, em muitos concelhos, tem sido encarado muito a sério, de forma organizada, com resultados bem visíveis. Porém, as palavras do supremo Magistrado da Nação soaram a falso, isto é, sem conteúdo credível. As populações não vêm qualquer vantagem nas lindas palavras dos políticos nem na presença de ministros sem gravata, com ar compungido junto aos postos de comando dos bombeiros que fazem frente aos fogos. Também já ninguém leva a sério as promessas optimistas feitas por governantes, todos os anos por alturas de Fevereiro ou Março, relativas a medidas que iriam reduzir as calamidades dos incêndios no verão seguinte, porque a realidade viria demonstrar a sua inutilidade e desajuste.

As palavras do Presidente traduziam ideias geradas no bafio do ar condicionado, com o apoio de assessores que não se deram ao cuidado de avaliar todos os factores condicionantes do problema. E qual a razão da descrença do povo? Vinha nos jornais, há poucos dias. Apesar de o bom povo saber que a quase totalidade dos fogos tem origem criminosa, apesar de ter ajudado as autoridades a deter os suspeitos e de estes terem sido levados a tribunal, nenhum foi condenado a prisão efectiva, na última meia dúzia de anos. Continuam a estagiar para melhorar os seus métodos a fim de atingirem o mais alto grau académico na ciência de incendiário, ou pirómano que é mais fino e desculpabilizante.

Em vez de palavras piedosas, seria mais útil que os governantes e legisladores procedessem a uma profunda revisão da legislação do funcionamento dos tribunais, porque, como estão, corremos o risco de a população vir a decidir fazer justiça por sua conta, e não lhe faltam ideias para condenações radicais dos criminosos. Parece que, num país que se considera civilizado, seria de tudo fazer para evitar chegar a este extremo.

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