domingo, 16 de agosto de 2009

Inclusão e exclusão. 060611

(Publicada n’O Diabo em 11 de Julho de 2006)

A Ex.ma Dr.ª Vera Ritta Sampaio assina uma carta ao Director num jornal diário em 29 de Junho, justificando a bondade da sua nomeação para adjunta de um ministro e afirmando que não devia ter rejeitado o convite só por questões de paternidade e que se considera com competência para desempenhar eficazmente o lugar. Tem todo o direito de defender o seu nome e sabe utilizar correctamente a palavra, ou não tivesse um «canudo» de Direito, e utiliza uma redacção mais fluente, lógica e compreensível do que o seu pai. Porém, é de admitir que os jornais, ao salientarem a sua nomeação, depois das notícias referentes a Susana Dutra Costa, Maria Monteiro e outras pessoas licenciadas de origem bem-nascida, não se prendam com o caso da Dr.ª Vera e da sua competência, mas sim com o facto de não ser muito bem visto, numa república laica e democrática, que os convites sejam feitos apenas aos familiares dos companheiros políticos. Há certamente no País outras pessoas competentes para o lugar, sem serem familiares de políticos. (Por exemplo, tenho filhos doutorados a quem, certamente por questão de paternidade, nunca foi feito um convite semelhante, mas felizmente, devido ao seu valor, não lhe têm sentido a falta). Para evitar a discriminação e a exclusão das pessoas, por motivo de paternidade, e conseguir uma inclusão com base na competência, há a solução dos concursos públicos. Não havendo por parte dos detentores do Poder, utilização deste mecanismo dos concursos e preferindo utilizar o compadrio, não se devem admirar as diversas pessoas nas condições da Dr.ª Vera de verem recair sobre si lógicas suspeitas.

Mas, provavelmente, a Dr.ª Vera, ao ser convidada, aceitou de repente e não teve o cuidado de salvaguardar a sua paternidade informando que estaria disposta a candidatar-se a um concurso público para o lugar. Provavelmente, o resultado seria o mesmo, mas a sua posição era inatacável. Dessa forma ficaria em relevo o currículo que cita na carta e realçaria o critério de competência, excelência e experiência.

Porém, da forma como as coisas estão a ser conduzidas, fica-se com dúvidas se estamos numa monarquia em que os familiares e amigos do monarca têm um título honorífico, ou numa ditadura em que o tirano faz tudo o que quer e como quer, ou numa democracia mascarada de ditadura por período renovável de quatro anos.

Sem comentários: