sábado, 15 de agosto de 2009

Os políticos e «os outros». 051230

(Publicada no Jornal de Notícias em 30 de Dezembro de 2005)

Apesar das minhas várias décadas de acumulação de saber (pouco) e de experiência e dos meus cabelos brancos, não desisto de querer continuar a aprender. E, curiosamente, as lições com temas novos não cessam de ocorrer. Agora veio mais uma do decano dos candidatos a Belém, o «pai da democracia», o persistente reincidente na corrida ao palácio do Ocidente (Ocaso), o patriota que está disponível para se imolar no altar da Pátria até ao último suspiro numa total doação «aos outros». Disse ele aos microfones convocados para dar cobertura à visita a uma instituição da AMI de apoio a idosos carenciados, que «os políticos também pensam nos outros», e repetiu.

Dito por um tal Mestre, é para acreditar, mas dito desta forma e em tais circunstâncias, feriu-me os ouvidos. Na minha inocência, estas palavras (aquele «também») ao apresentarem uma excepção, uma eventualidade ocasional e secundária que é preciso dizer-se que existe, deixou-me confuso. Então, não é que estava convencido de que os políticos, em democracia, estão permanentemente focalizados «nos outros», nos cidadãos, por cujo bem-estar se sacrificam! Sempre pensei que os objectivos prioritários e permanentes dos governantes e legisladores seria a procura da felicidade dos outros, colocando os interesses do seu partido em segundo lugar e os seus próprios interesses individuais em último lugar.

Afinal, o grande Mestre, o profissional mais célebre, mostra-nos que pensar nos outros é uma rara excepção cuja eventual concretização, sendo rara e circunstancial, deve ser convenientemente publicitada, o que ele teve o cuidado de fazer. Portanto, conclui-se (como já se viu nas autárquicas) que os políticos, por regra, pensam apenas em si próprios, nas suas ambições de Poder, e, segundo sentiu necessidade de dizer, às vezes, «também pensam nos outros». Estou banzado ao constatar que tenho andado iludido, ingenuamente enganado, com ideias utópica imbuídas de música celestial. Mas na realidade não se pode esperar que os políticos sejam seres divinos, mas compreender que são meros seres humanos, com os seus egoísmos, ambições e outras imperfeições. Agradeço ao grande Mestre mais esta esclarecedora lição.

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