domingo, 16 de agosto de 2009

Saber de experiência feito

Saber de experiência feito
(Enviada aos jornais em 5 de Setembro de 2006)

A experiência é uma fonte de saber com provas dadas durante todos os séculos da humanidade, mas devemos aumentar os conhecimentos não à custa dos nossos êxitos e erros mas também pela observação dos êxitos e dos erros dos outros. Recordo um repositório muito didáctico entre os militares em Angola na década de 60 intitulado «Experiência de todos para todos». Pessoa amiga (obrigado Franklin) chamou-me a atenção para um artigo do Le Monde de 4 de Setembro com o título «Sarkozy, quer uma escola liberta da herança de 68». O ministro francês do Interior, candidato a Presidente, traçou um retrato da França após Maio de 1968. Segundo ele, a geração do pós-68 «delapidou a herança sem acrescentar aquele suplemento de alma que ela dizia faltar. Instalou por todo o lado, na política, na educação, na sociedade, uma inversão de valores e um pensamento único de que os jovens são hoje as vítimas». No centro deste pensamento único está o «jeunisme», esta ideologia que diz à juventude que ela tem todos os direitos e que tudo lhe é devido, o que é falso».

Se devemos beneficiar com a experiência dos outros, temos que concordar que esta inversão de valores por ele referida tem muitas semelhanças com o que ocorreu em Portugal a partir de meia dúzia de anos mais tarde, de que ainda hoje o ensino e os jovens estão sendo vítimas.

Sarkozy acusa os herdeiros de 68 de «perguntar às crianças o que elas desejam aprender, de lhes dizerem que são iguais aos professores, que declarem guerra ao elitismo republicano». Os actores de 68 «venceram sem obstáculos e agora os jovens pagam a factura». Segundo ele, a escola, em vez de se abrir sobre o mundo e a criança, deveria concentrar-se na «transmissão do saber», preparando os estudantes para a vida na sociedade existente. Apoiando o trabalho, diz que «tudo tem de ser merecido, nada está adquirido, nada nos é dado». Aponta como objectivos dos jovens «a excelência na educação, o direito à formação contínua ao longo da vida, o direito à segunda oportunidade, o direito à primeira experiência profissional e o direito à criatividade».

Estas palavras poderiam ser subscritas, em Portugal, por qualquer político, realista, esclarecido, amante do País, independentemente do seu partido. Se a França foi modelo para Portugal durante muitos séculos, não há razão para não reflectir sobre as palavras atrás referidas e pensar em que medida elas poderiam ajudar a encarar de frente a recuperação da crise de valores que estamos a atravessar, sem boas perspectivas quanto à data da viragem.

É imperioso e urgente que à semelhança deste Francês, haja um Português, liberto de preconceitos (do politicamente correcto), faça um diagnóstico do estado geral do País e aponte as formas mais adequadas da terapia.

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