quinta-feira, 25 de março de 2010

Lei da rolha convida ao voto em branco?

Com o unanimismo e a acefalia exigida por esta norma do PSD a todas as pessoas pensantes do partido, e com a votação, que não esquece, da lei de financiamento dos partidos, vê-se que os políticos, salvo eventuais excepções, não se preocupam com o país mas sim com os partidos e, acima deles, com a imagem intocável do seu líder. Para isso, não há por onde escolher, e estão a merecer o voto em branco, porque eles próprios dizem que os outros não são melhores.

O caso é tão chocante que deu oportunidade a quatro cronistas do Correio da Manhã, tão acusados pelo PS de serem demasiado críticos do governo, de certamente por iniciativa própria, terem escolhido o tema para as crónicas de hoje , mostrando a sua preocupação de independência e isenção e equidistância.

A sombra dos medíocres
Correio da Manhã. 15 Março 2010, por Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto

A fechar um congresso que projectou uma imagem de vitalidade do PSD para o País os sociais-democratas borraram a pintura. O que vale um partido obcecado com o autoritarismo de Sócrates quando aprova para os seus próprios estatutos uma abjecta restrição aos mais elementares valores da política e da liberdade de expressão? Um partido que se consola com uma lei da rolha para dormir mais descansado, para embalar no sono celestial do unanimismo e aceita portar-se como uma manada acéfala, não merece a confiança dos portugueses.

Impor o silêncio e a sanção como castigo aos prevaricadores tem uma lógica puramente inquisitorial. É a sombra dos medíocres que se abate sobre o PSD, empurrando-o para o espaço do fanatismo, de um holiganismo político que tem da vida e da sociedade uma visão insuportavelmente maniqueísta. É assumir, de vez, que os partidos não servem para discutir ideias e projectos de sociedade, mas meramente apoiar homens providenciais que hão-de levar-nos a todos a um qualquer paraíso. Há, na verdade, gente que tem da política essa concepção e pulula por aí. Só servem para reproduzir os argumentários limitados que lhes servem. Têm a mentalidade dos No Name Boys, dos Super Dragões e da Juve Leo. Mas não é com gente assim, com as leis da rolha deles e partidos destes, que vamos a algum lado decente.

A asfixia democrática
Correio da Manhã. 15 Março 2010, por António Ribeiro Ferreira, jornalista

O congresso do PSD acabou da pior maneira possível. O partido de Sá Carneiro e das liberdades revelou ontem ao País que se encontra num estado lamentável. Depois de uma boa discussão política dominada pelos ex-presidentes Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes e Santana Lopes, o congresso aprovou uma alteração estatutária que pune até à expulsão quem criticar a direcção 60 dias antes de um acto eleitoral.

Esta norma asfixiante não só mostra que o partido de Cavaco Silva perdeu a cabeça e os princípios como revela que o próximo líder será com certeza um homem fraco que não consegue resistir à mínima brisa. O PSD da liberdade de expressão, da verdade e da democracia deixou de existir ontem à tarde em Mafra. Agora é um grupo desesperado e sem Norte à procura de uma qualquer bóia que o salve da morte.

Laranja azeda
Correio da Manhã. 15 Março 2010, Por Joana Amaral Dias

Que fracasso. Em Mafra, não surgiram novos candidatos, como muitos ansiavam. Perderam-se aspirantes. Já Marcelo Rebelo de Sousa mostrou como nenhum deles está à altura. Em Mafra, pretendia-se alterar estatutos. Mas não se tocou na eleição do líder. Sem discussão de moções políticas, as suas ideias terão que ser aceites. E ponto final.
Em Mafra, defendia-se um debate aberto. Mas aprovaram--se sanções para os críticos da direcção. Enfim, tentou-se resolver os ataques às lideranças criando um problema ainda maior. Que mostrou que as preocupações do PSD sobre a "asfixia democrática" e sobre a liberdade de expressão (na Comissão de Ética) são apenas circunstanciais. Para uso externo. Em Mafra, os candidatos aceitaram este "cheira a salazarismo". Cá fora, demarcaram-se. Muito revelador. Oxalá nenhum chegue a primeiro-ministro.

Congresso da rolha
Correio da Manhã. 15 Março 2010, por Carlos de Abreu Amorim

O Congresso falhou o objectivo de quebrar Passos Coelho. Também, a ideia de ouvir as bases não prevaleceu: as vozes audíveis foram as dos ex-presidentes, as de alguns (ditos) notáveis e as dos candidatos a líderes.

Aguiar Branco não levou claque e perdeu nos valores do ‘palmómetro’.

Rangel empolgou à tarde mas decaiu à noite – insiste em proclamar fins sem mostrar como lá chegar.

Passos Coelho quase derrapou na ‘gafe’ com Jardim mas recuperou no último discurso: a proposta de adiamento do PEC foi o facto político mais relevante do Congresso.

Marcelo dissipou-se no esforço de querer condicionar o futuro líder.

O pior aconteceu no final: a santanista ‘Lei da Rolha’, para além de um disparate político, é uma agressão à tradição de liberdade do PSD e uma prenda que o PS não merecia.

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