sábado, 10 de abril de 2010

Simplicidade na vida

O post recente «Elogio da simplicidade» é realmente polémico, pois confronta a realidade actual em que o consumismo, a ostentação de poder e de riqueza, a concorrência disputada ao milímetro, o apego ao lucro por qualquer meio, convencem muita gente de que essa é a única forma de vida possível.

Ora, esse post apontava para outros critérios menos stressantes, mais naturais e saudáveis, mais enriquecedores da pessoa como um binómio de aspectos materiais e de ideias e sentimentos, com preponderância para a parte espiritual. É certo que o exemplo do casal inglês Jim Boss Kaz e Cherry exige uma base monetária para suportar as despesas, a não ser que desenvolvam actividade produtiva, sempre possível através da Internet. O mesmo se aplica ao ex-milionário austríaco Karl Rabeder.

Porém, o exemplo do economista irlandês Mark Boyle espelha o que se passa no nosso Alentejo com vários casais estrangeiros que cultivam o seu pequeno monte para produzirem o necessário para viver sem carências, nos fins de semana partem para as praias algarvias, dispõem do computador para as relações com o mundo e vivem sem a azáfama da vida moderna. Um inglês arroteou o terreno que adquiriu na encosta algarvia, deu todas as comodidades à casa rústica, fez um furo para obter água, preparou socalcos na encosta onde cultiva flores e, passado pouco tempo, fez um contrato com a TAP para transportar regularmente de Faro para Londres um carregamento de flores para os floristas londrinos.

Um outro caso concreto, um alemão que leva uma vida do estilo descrito no post «Um dia como os outros», em aparente ociosidade, cultiva ervas aromáticas que vende anualmente para um laboratório de perfumes na Alemanha.

E que dizer das potencialidades do exemplo descrito em «Quem sou?». Em vez de pastor pode passear pela serra ou ir mais longe, sem problemas de horário e, em casa, através da Internet, fazer trabalhos de consultoria, de contabilidade para empresas, de tradução, de ensino e explicações, etc. Conheço pessoas que, na cidade, se dedicam a tais tarefas, que poderiam ser realizadas em ambiente despoluído, sem barulhos nem perturbações urbanas inevitáveis e sem a fadiga da corrida e da concorrência próprias das actividades de quem vive na cidade. Mas estas actividades se forem além do necessário para viver, já deturpam o espírito dos exemplos anteriores.

Espero que estes elementos esclareçam melhor o conceito de vida simples e acendam a polémica de que a colega Celle gosta e sabe alimentar.

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