sexta-feira, 4 de junho de 2010

Os Pobres que paguem a crise ?!

Transcreve-se a segunda parte do artigo de Rafael Barbosa no Jornal de Notícias de hoje:

O Manuel e a Maria são casados e têm dois filhos. Ela está desempregada, já não tem direito a subsídio, ele trabalha na construção civil, ganha 800 euros brutos por mês. Um cenário que já se arrasta há mais de dois anos, uma vez que a crise se encarregou de congelar o salário do Manuel. Pelo menos, é essa a desculpa que lhe dá o patrão.

Pois o Manuel e a Maria foram chamados a colaborar no "esforço patriótico" que o primeiro-ministro anunciou por estes dias.

Inicialmente, Sócrates tinha garantido que os portugueses isentos de IRS continuariam a estar isentos. Mas depois deu o dito por não dito, o que começa a ser uma espécie de imagem de marca, e Manuel e Maria foram chamados a colaborar.

E assim o casal, que até aqui estava isento de IRS, pela simples razão de que tem um rendimento miserável - 200 euros por cada elemento do agregado familiar -, vai passar a descontar seis euros por mês, 84 euros no total do ano.

Manuel e Maria já decidiram em que patrióticas obras querem ver aplicado o seu magro contributo:

. 34 euros para a linha de TGV entre o Poceirão e o Caia [compromissos internacionais são para honrar],
. 30 para a terceira travessia do Tejo e
. 20 para as auto-estradas do Pinhal Interior [a família da Maria é de uma aldeola da Beira Baixa].

Entretanto há quem defenda que quem tem fome e não pode comprar alimentos, tem direito de roubar. Esse roubo, ao contrário dos de gravadores de jornalistas, será um acto patriótico porque contribui para a superação da «injustiça social» e para evitar a morte por inanição de cidadãos que, depois da crise, poderão ser úteis como mão de obra para a recuperação da economia nacional.

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