sexta-feira, 22 de abril de 2011

Risco de «retrocesso civilizacional»


A notícia que se transcreve vem ao encontro de muito que aqui tem sido escrito acerca da má herança que se deixa aos descendentes, devido a sucessivos erros de governação desde o 26 de Abril.


O 25 de Abril foi um golpe com sucesso pontual mas, no dia seguinte, foi totalmente descontrolado e desvirtuado, em que liberdade foi substituída por libertinagem, e por conceitos irracionais e impraticáveis, nasceu a obsessão de direitos sem pensar em deveres que com eles devem sempre estar equilibrados, e surgiu a exigência de igualdade na mediocridade, eliminando o que havia de melhor e desmotivando o valor e o mérito.

Numa queda sistemática, de que se aproveitaram os clãs governamentais, resultou a degradação da sociedade normal e o enriquecimento dos políticos conluiados com os donos do capital, chegando-se a uma situação dificilmente sanável, em que tudo pode acontecer, em que o Risco de motim não deve ser negligenciado.

Pela análise, mesmo muito superficial que se faça destes 37 anos, não se pode esperar que os nascidos neste período venham a erigir estátuas ou elogiar os da geração de seus pais pela forma como fizeram «evoluir» o Pais que outrora foi grande e prestigiado.

É, pois, com agrado que se vê sobressair, destes jovens, organização e vontade de restaurar Portugal retirando-o do fosso em que em vindo a ser enterrado.

PÚBLICO. 22-04-2011 Por Lusa


Indignados com o Portugal de hoje, nascidos no pós-25 de Abril de 1974 juntaram-se num manifesto contra o risco de "retrocesso civilizacional" no País, perante a "precariedade no trabalho" e o "desinvestimento" em direitos adquiridos com a Revolução.

A poucos dias das comemorações dos 37 anos da Revolução dos Cravos, mais de 60 subscritores do documento consideram que muitas das conquistas, com as quais se identificam enquanto "filhos de Abril", estão a diluir-se.

"O Inevitável é Inviável", assim se designa o manifesto, é assinado, nomeadamente, por artistas, estudantes, desempregados, activistas de direitos das mulheres e dos imigrantes e organizadores do protesto "Geração à Rasca".

O escritor José Luís Peixoto, a compositora Celina Piedade, a jurista Marta Rebelo ou o humorista Jel, dos Homens da Luta, e Tiago Gillot, do movimento Precários Inflexíveis, são alguns dos nomes que dão voz ao manifesto.

Um "grito de alerta" contra a ideia de que "só há uma saída" possível, a das políticas de austeridade, para os problemas que Portugal enfrenta, assinala à agência Lusa Lídia Fernandes, desempregada, uma das subscritoras do documento.

E que problemas Portugal enfrenta? "Tendência para 'precarizar' as relações de trabalho, diminuir o investimento no emprego, enfraquecer e desmantelar o Estado social, com cortes na saúde, educação e protecção social", enumera.

Os subscritores do manifesto reclamam alternativas, que, para a activista dos direitos das mulheres e dos imigrantes, "não podem ser no sentido de um retrocesso civilizacional e democrático" em que o País está "em risco".

É que, segundo Lídia Fernandes, existe em Portugal o perigo, "dificilmente reversível", de "um recuo grande" em termos de direitos económicos, cívicos e sociais.

Uma opinião partilhada por Miguel Cardina, outro dos subscritores do "grito de revolta" contra a situação actual do País, onde "as pessoas vivem mal".

O historiador, que integra o movimento anti-austeridade Portugal Uncut, fala num "ataque constante, muitas vezes subliminar", a "conquistas de Abril" como o emprego, a escola pública e o Serviço Nacional de Saúde e teme o "agravamento das desigualdades sociais", o "perigo de alterações constitucionais", o "desmantelamento" da saúde gratuita para todos.

Por isso, defende uma "mudança política e social", que envolva toda a sociedade, porque "a democracia não é compatível com a inevitabilidade" da crise e da intervenção externa do Fundo Monetário Internacional.

João Labrincha, um dos organizadores da manifestação "Geração à Rasca", que juntou em Março milhares de portugueses nas ruas, advoga "uma renovação do espírito do 25 de Abril", até porque "muitas das coisas pelas quais as pessoas lutavam na altura continuam a ter muita actualidade" e, nalguns casos, ressalva, "tem havido alguns retrocessos", dando como exemplo a "precariedade laboral".

Licenciado em Relações Internacionais mas desempregado, Labrincha sustenta que a democracia alcançada em 1974 só ficará "completa" com "uma participação cívica mais activa". E isso, critica, tem faltado ao longo de 37 anos.


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